EXTINÇÃO
DE ESPÉCIES
Joema
Carvalho
Dra., engenheira
florestal
Sócio-diretora da Elo
Soluções Sustentáveis Ltda.
A dinâmica de um ambiente natural é
baseada na taxa de mortalidade e recrutamento, relacionada diretamente às
competições intraespecíficas (entre indivíduos da mesma espécies) e
interespecíficas (entre indivíduos de espécies diferentes) por recursos, como nutriente,
água, luz e espaço, dentro de uma condição ambiental específica.
Estas
competições mantêm o equilíbrio da população de uma determinada espécie,
evitando o seu aumento, além da demanda de recursos disponibilizada em um
determinado ambiente e, desta forma, impedem que uma espécie competidora, mais
agressiva, chegue à condição de praga ou invasora, comprometendo a composição
florística e a estrutura de um ecossistema.
Estas
relações garantem o fluxo de energia, através da chamada cadeia trófica, onde
estão denominados os produtores, que no caso são as plantas, seres vivos
capazes de sintetizar o próprio alimento por realizarem a fotossíntese, os
consumidores, espécies que se alimentam das plantas e de outros seres vivos e,
os decompositores que atuam na decomposição de indivíduos mortos, os
saprófitos, contribuindo com a ciclagem de nutrientes.
Eventualmente,
quando os recursos se tornam escassos, sendo incapazes de atender a demanda de
uma população de uma determinada espécie, pode ocorrer a extinção da mesma.
Existem microrganismos que habitam poças em oco de árvores e, a partir do
momento que estas poças secam, ocorre a extinção destes microrganismos. Uma
espécie topo de cadeia, como os grandes carnívoros, precisam de uma demanda
enorme de espaço e de outras espécies para a sua alimentação. Quando a
disponibilidade destes recursos reduz, a população dos grandes carnívoros tende
a diminuir, efeito direto no recrutamento e na mortalidade destas espécies.
Da
mesma forma, as condições ambientais podem ou não ser favoráveis. Existem
ambientes extremos como polo norte, polo sul e desertos, onde poucas espécies
são tolerantes às suas condições características; ambientes adversos, com
inundação periódica e manguezais, que também restringem a adaptação de espécies
e, os propícios, favoráveis a uma grande maioria, sendo assim, com diversidade
biológica mais alta.
Ao
longo da história geomorfológica do planeta Terra, ocorreram diversos eventos
atmosféricos e geológicos que atuaram na seleção de espécies, onde as condições
ambientais tornaram-se adversas, comprometendo a demanda de recursos e, por
fim, levando a extinção de diversos seres vivos devido a este conjunto de
fatores. Quando a temperatura média do planeta aumentou, ocorreu o aumento do
nível médio dos mares, intenso movimento tectônico gerando soerguimento de
magma e, como exemplo, um dos eventos desta condição: à deriva continental. Por
outro lado, em momento de redução da temperatura, a consequência foi o recuo
marinho e aumento das áreas frias e / ou geleiras. Todo este movimento em sua
condição extrema, levou a extinção de inúmeras espécies assim, considera-se que
já ocorreram, cinco extinções em massa. Sendo assim, mudanças climáticas não
são nenhuma novidade planetária.
No
contexto presente, este conjunto de fatores continua atuando. A medição de
forma sistemática dos eventos atmosféricos iniciou-se no início do século
passado, apesar das modelagens e estimativas pretéritas, o controle destes
eventos, é, por este motivo, complicado.
O
grande questionamento é o quanto da interferência humana influência os eventos naturais
planetários?
É
evidente que usurpamos do planeta todos os seus recursos, não dando a chance da
sua resiliência se processar, desrespeitando a sensatez e técnicas adequadas de
manejo.
A
espécie humana é capaz de habitar todas as condições ambientais possíveis,
adaptabilidade invejável para as demais espécies que são tolerantes a uma
determinada situação específica, nunca a todas. O macho humano está fértil
todos os dias, a fêmea humana, mensalmente e não possuímos predador natural. Como
agentes de controle populacional, tem-se catástrofes naturais, guerras,
epidemias, doenças, violência, desigualdade social e trânsito.
Indiscutivelmente, devido ao nosso comportamento, somos “alien specie”,
espécie exótica invasora.
O
território de ocupação humana encontra-se em processo de expansão, invadindo
cada vez mais, remanescentes naturais, destinados a outros seres vivos. Considerando
todos os recursos existentes, mais de 75%, são apenas para uma única espécie, no caso, a humana, desconsiderando-se
as demais 700 mil estimadas.
Desta
forma, o desmatamento ocorre em função da urbanização, industrialização,
agropecuária, obtenção de recursos naturais, como água, gás, minérios, madeira,
petróleo. Com a alteração do uso e ocupação do solo, ocorre a liberação de
carbono estocado na matéria orgânica, áreas compactadas ou erodidas, com
fertilidade natural reduzida, ciclo de nutrientes e hidrológico comprometidos,
incidindo diretamente no fornecimento dos serviços ambientais, que influenciam
diretamente a qualidade e a demanda de alimento e de água para humanos e para a
biodiversidade, de um modo geral.
A
melhor saída técnica é o zoneamento ecológico econômico, considerando
capacidade de uso do solo e os princípios da sustentabilidade, no caso
desenvolvimento econômico, ambiental e social. Sabe-se que os serviços
ambientais são imprescindíveis a vida humana, como exemplo, 75% das essências
florestais e agrícolas dependem da polinização para a sua produtividade; minérios
e energia (petróleo, gás, ferro, estanho, água), são recursos para a produção e
movimento de veículos, maquinários, meios de comunicação, ou seja, o que move o
mundo. A penicilina vem do fungo Penicillum, remédios para pressão alta,
são obtidos a partir do veneno de cobras, todos os princípios ativos são
extraídos dos recursos naturais.
O
princípio dos três “R’s”: reduzir, reaproveitar e reciclar, é bem simples e
fácil de ser empregado dentro de residências, empresas e indústrias. Infelizmente,
é comum o desperdício da água quando a mesma escorre enquanto esquenta no
banheiro ou na pia ou para lavar vegetais gerando perda ambiental e econômica
e, se fosse estocada, poderia ser reutilizada. Poucos condomínios e cidades
realizam a coleta seletiva e quando fazem, pequena porcentagem de moradores contribui
com a separação dos resíduos. Indo mais além, já se considera o princípio dos 7 R's, ou seja, além dos anteriores, repensar, reeducar, recusar, reintegrar, tornando o sentido mais amplo e responsável o qual, se alinha aos pilares mais elevados dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS, que são, além do social, ambiental e econômico, a educação, a cultura e a qualidade de vida e / ou bem estar.
Ponto
positivo, a economia circular é crescente, tendo como princípio a utilização
dos resíduos ou lixo como recurso ou matéria prima. Neste contexto, atualmente, grandes empresas
e bancos nacionais e internacionais realizam altos investimentos em novas
tecnologias, visando ao atendimento de acordos e políticas de sustentabilidade
e redução da emissão dos gases de efeito estufa.
É
importante a consciência de que, o que faz bem para os humanos, é bom para a
natureza. Alimentos enlatados, embalados, contém conservantes e outras
substâncias comprovadamente cancerígenas e contribuem muito com a quantidade de
resíduos. Vegetais produzidos fora da época natural, exigem grandes quantidades
de agrotóxicos, o que, comprovadamente, é maléfico para a saúde humana. Embalagens
e insumos químicos derivam ou exigem grandes quantidades de recursos naturais,
por exemplo energia e água, durante todo o seu processo de produção.
Remanescentes
naturais e arborização dentro de cidades, melhoram a qualidade de vida e
reduzem a poluição atmosférica. Considera-se também que a vitamina “N”
(natureza) é fundamental para a saúde humana, assim como “banho de floresta”, comprovando
a relação da nossa sustentabilidade aos ambientes naturais.
Todo
ser vivo utiliza recursos durante o seu ciclo de vida. O problema do humano é
que, devido às suas habilidades, se expandiu demais. Como completo de sua
evolução, falta incluir um padrão mais educado, saudável e refinado de vida
consciente, que respeita as demais formas de vida, recursos e ciclos naturais.