segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

EXTINÇÃO DE ESPÉCIES


EXTINÇÃO DE ESPÉCIES

                                                                                                                Joema Carvalho
Dra., engenheira florestal
Sócio-diretora da Elo Soluções Sustentáveis Ltda.

         A dinâmica de um ambiente natural é baseada na taxa de mortalidade e recrutamento, relacionada diretamente às competições intraespecíficas (entre indivíduos da mesma espécies) e interespecíficas (entre indivíduos de espécies diferentes) por recursos, como nutriente, água, luz e espaço, dentro de uma condição ambiental específica.
Estas competições mantêm o equilíbrio da população de uma determinada espécie, evitando o seu aumento, além da demanda de recursos disponibilizada em um determinado ambiente e, desta forma, impedem que uma espécie competidora, mais agressiva, chegue à condição de praga ou invasora, comprometendo a composição florística e a estrutura de um ecossistema.
Estas relações garantem o fluxo de energia, através da chamada cadeia trófica, onde estão denominados os produtores, que no caso são as plantas, seres vivos capazes de sintetizar o próprio alimento por realizarem a fotossíntese, os consumidores, espécies que se alimentam das plantas e de outros seres vivos e, os decompositores que atuam na decomposição de indivíduos mortos, os saprófitos, contribuindo com a ciclagem de nutrientes.
Eventualmente, quando os recursos se tornam escassos, sendo incapazes de atender a demanda de uma população de uma determinada espécie, pode ocorrer a extinção da mesma. Existem microrganismos que habitam poças em oco de árvores e, a partir do momento que estas poças secam, ocorre a extinção destes microrganismos. Uma espécie topo de cadeia, como os grandes carnívoros, precisam de uma demanda enorme de espaço e de outras espécies para a sua alimentação. Quando a disponibilidade destes recursos reduz, a população dos grandes carnívoros tende a diminuir, efeito direto no recrutamento e na mortalidade destas espécies.
Da mesma forma, as condições ambientais podem ou não ser favoráveis. Existem ambientes extremos como polo norte, polo sul e desertos, onde poucas espécies são tolerantes às suas condições características; ambientes adversos, com inundação periódica e manguezais, que também restringem a adaptação de espécies e, os propícios, favoráveis a uma grande maioria, sendo assim, com diversidade biológica mais alta.


Ao longo da história geomorfológica do planeta Terra, ocorreram diversos eventos atmosféricos e geológicos que atuaram na seleção de espécies, onde as condições ambientais tornaram-se adversas, comprometendo a demanda de recursos e, por fim, levando a extinção de diversos seres vivos devido a este conjunto de fatores. Quando a temperatura média do planeta aumentou, ocorreu o aumento do nível médio dos mares, intenso movimento tectônico gerando soerguimento de magma e, como exemplo, um dos eventos desta condição: à deriva continental. Por outro lado, em momento de redução da temperatura, a consequência foi o recuo marinho e aumento das áreas frias e / ou geleiras. Todo este movimento em sua condição extrema, levou a extinção de inúmeras espécies assim, considera-se que já ocorreram, cinco extinções em massa. Sendo assim, mudanças climáticas não são nenhuma novidade planetária.
No contexto presente, este conjunto de fatores continua atuando. A medição de forma sistemática dos eventos atmosféricos iniciou-se no início do século passado, apesar das modelagens e estimativas pretéritas, o controle destes eventos, é, por este motivo, complicado.
O grande questionamento é o quanto da interferência humana influência os eventos naturais planetários?
É evidente que usurpamos do planeta todos os seus recursos, não dando a chance da sua resiliência se processar, desrespeitando a sensatez e técnicas adequadas de manejo.
A espécie humana é capaz de habitar todas as condições ambientais possíveis, adaptabilidade invejável para as demais espécies que são tolerantes a uma determinada situação específica, nunca a todas. O macho humano está fértil todos os dias, a fêmea humana, mensalmente e não possuímos predador natural. Como agentes de controle populacional, tem-se catástrofes naturais, guerras, epidemias, doenças, violência, desigualdade social e trânsito. Indiscutivelmente, devido ao nosso comportamento, somos “alien specie”, espécie exótica invasora.
O território de ocupação humana encontra-se em processo de expansão, invadindo cada vez mais, remanescentes naturais, destinados a outros seres vivos. Considerando todos os recursos existentes, mais de 75%, são apenas para uma única espécie, no caso, a humana, desconsiderando-se as demais 700 mil estimadas.
Desta forma, o desmatamento ocorre em função da urbanização, industrialização, agropecuária, obtenção de recursos naturais, como água, gás, minérios, madeira, petróleo. Com a alteração do uso e ocupação do solo, ocorre a liberação de carbono estocado na matéria orgânica, áreas compactadas ou erodidas, com fertilidade natural reduzida, ciclo de nutrientes e hidrológico comprometidos, incidindo diretamente no fornecimento dos serviços ambientais, que influenciam diretamente a qualidade e a demanda de alimento e de água para humanos e para a biodiversidade, de um modo geral.
A melhor saída técnica é o zoneamento ecológico econômico, considerando capacidade de uso do solo e os princípios da sustentabilidade, no caso desenvolvimento econômico, ambiental e social. Sabe-se que os serviços ambientais são imprescindíveis a vida humana, como exemplo, 75% das essências florestais e agrícolas dependem da polinização para a sua produtividade; minérios e energia (petróleo, gás, ferro, estanho, água), são recursos para a produção e movimento de veículos, maquinários, meios de comunicação, ou seja, o que move o mundo. A penicilina vem do fungo Penicillum, remédios para pressão alta, são obtidos a partir do veneno de cobras, todos os princípios ativos são extraídos dos recursos naturais.
O princípio dos três “R’s”: reduzir, reaproveitar e reciclar, é bem simples e fácil de ser empregado dentro de residências, empresas e indústrias. Infelizmente, é comum o desperdício da água quando a mesma escorre enquanto esquenta no banheiro ou na pia ou para lavar vegetais gerando perda ambiental e econômica e, se fosse estocada, poderia ser reutilizada. Poucos condomínios e cidades realizam a coleta seletiva e quando fazem, pequena porcentagem de moradores contribui com a separação dos resíduos. Indo mais além, já se considera o princípio dos 7 R's, ou seja, além dos anteriores, repensar, reeducar, recusar, reintegrar, tornando o sentido mais amplo e responsável o qual, se alinha aos pilares mais elevados dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS, que são, além do social, ambiental e econômico, a educação, a cultura e a qualidade de vida e / ou bem estar. 
Ponto positivo, a economia circular é crescente, tendo como princípio a utilização dos resíduos ou lixo como recurso ou matéria prima. Neste contexto, atualmente, grandes empresas e bancos nacionais e internacionais realizam altos investimentos em novas tecnologias, visando ao atendimento de acordos e políticas de sustentabilidade e redução da emissão dos gases de efeito estufa.
É importante a consciência de que, o que faz bem para os humanos, é bom para a natureza. Alimentos enlatados, embalados, contém conservantes e outras substâncias comprovadamente cancerígenas e contribuem muito com a quantidade de resíduos. Vegetais produzidos fora da época natural, exigem grandes quantidades de agrotóxicos, o que, comprovadamente, é maléfico para a saúde humana. Embalagens e insumos químicos derivam ou exigem grandes quantidades de recursos naturais, por exemplo energia e água, durante todo o seu processo de produção.
Remanescentes naturais e arborização dentro de cidades, melhoram a qualidade de vida e reduzem a poluição atmosférica. Considera-se também que a vitamina “N” (natureza) é fundamental para a saúde humana, assim como “banho de floresta”, comprovando a relação da nossa sustentabilidade aos ambientes naturais.
Todo ser vivo utiliza recursos durante o seu ciclo de vida. O problema do humano é que, devido às suas habilidades, se expandiu demais. Como completo de sua evolução, falta incluir um padrão mais educado, saudável e refinado de vida consciente, que respeita as demais formas de vida, recursos e ciclos naturais.